sábado, 29 de janeiro de 2011

A Balada de um Palhaço (Estreia no Festival de Curitiba, Sesc Água Verde)

Uma das obras mais poéticas do mestre Plínio Marcos. Retrata a busca pela alma do nosso trabalho artístico. Como ele mesmo diz, as suas peças ainda são atuais, porque o país não evolui e nossos conflitos são os mesmos. O Bobo Plin é um de meus personagens favoritos na dramaturgia brasileira. O seu oposto, Menelão, é a figura satírica do artista em busca somente do retorno capital. O embate poético entre estas duas figuras singelas, mas que representam forças titânicas, engendra algumas das mais belas páginas já escritas para o nosso teatro.

Este trecho, tirado do último discurso do Bobo Plin, é de singular beleza, e sem dúvida um ápice poético na obra de Plínio, chega a ser um ensinamento e uma oração.

Ó Ideal,
que estás no meu céu interior,
verdade viva
que faz minha alma
imortal
para que tua tendência
evolutiva
seja realizada,
para que teu nome
se afirme pelo trabalho,
para que tua revelação
seja manifestada a cada
espetáculo,
a cada espetáculo concede-me
a idéia criadora,
que assim como ela está
entendida no meu coração
seja entendida no meu corpo.
Ó Ideal,
preserva-me dos reflexos
da matéria,
que eu compreenda
que o sofrimento benfeitor
está na origem da minha
encarnação
Livra-me do desespero
e que teu nome seja
santificado
pela minha coragem
na prova.
Ó Ideal
faze com que eu
não diferencie
o fracasso do sucesso.
E perdoa a minha
dificuldade de comunicação,
assim como eu perdôo
os que não têm ouvidos
de ouvir
nem olhos de ver
Ó Ideal,
destrói meu orgulho
que poderia afastar-me
da tua luz-guia,
nutre meu devotamento,
porque és,
Ó, Ideal
a realeza, o equilíbrio, a força
da minha intuição.

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